BIOGRAFIA
 
 

         Falar de Inocentes é falar de parte da história do rock nacional que foi soterrada pela ditadura nas catacumbas da era discoteque. "A Idade Média da cultura jovem brasileira", como diz Clemente. Aquele bando de garotos "mal comportados e com cheiro de periferia" não interressava à mídia e adjacências. Ignorá-los foi fácil. Difícil é apagar a hitória, já que a sombra desses moleques acompanha 99% do rock produzido aqui de 1982 até agora. E todo o pessoal que frequenta a mídia hoje em dia se resusa a olha para trás e admitir essa influência. O resultado disso tudo é o seguinte: devido já a nossa decantada falta de memória, de registro, Os Inocentes ouvem, pelas ruas ou de alguns ouvintes, frases como: "O som de vocês é parecido com o dos Titãs..." E o que eles acham disso? "Agente ri, acha engraçado. Para falar a verdade, é triste! Historicamente muita coisa ficou perdida no Brasil. Hoje em dia você lê uma entrevista e parece que tudo começou em Brasília ou no rock paulista. Ninguém sabe o que aconteceu. Ninguém sabe o que aconteceu. Ninguém sabe que é quem", avalia Clemente. Impossível voltar ao relógio e tentar esclarecer, empiricamente, toda essa confusão. Fica a eserança de dias melhores, já que evolução das coisas é inevitável. Desde 78 os integrantes dos Inocentes - André (baixo), Ronaldo (guitarra), Tonhão (bateria) e Clemente (vocal e guitarra) - fazem rock. Hoje eles nem gostam de usar essa palavra para se referir a sua música. "É foda assumir o rótulo rock, porque o pop está com rótulo de rock", diz Clemente. Expliquem melhor. Tonhão: "Neguinho faz MPB decadente, com falta de vergonha, e diz que é rock". Ronaldo: "Rock não é música de elite, é música de burraco... O cara nasce boy vai morrer boy. Pode virar punk hoje, mas amanhã vai ser boy denovo". Mas, apesar disso tudo, registro é registro e quem tem ouvido vai perceber as diferenças...

      Os Inocentes são um dos poucos que podem ressarcir quaisquer dúvidas. De toda a leva de 78, eles foram os únicos que conseguiram chegar a uma grande gravadora. Em 86 - ou seja, com uma defasagem de oito anos -, eles lançram o primeiro mini-LP pela WEA, Pânico em SP. Segundo eles, foi um disco feito ás pressas, com o grupo numa formação ainda capenga. "O Ronaldo toca, originalmente, guitarra. Teve que assumir o baixo porque o André estava servindo o Exéricito. Estavamos ás presas no estúdio e gravamos tudo muito rápido", diz Clemente. E este Adeus Carne? "É o que agente mais gosta. Antes de irmos ao estúdio, ensaiamos muito, fizemos todos os arranjos. Ele (o disco) conseguiu retratar aquela fase da banda. Foi, também, uma intenção de nós quatro: tivemos mais tempos juntos e foi superlegal.". E quanto a produção do Peninha? Tudo bem? Tonhão: "A gente briga um pouco, mas acaba conseguindo o que quer", Clemente: "Rolou um ótimo clima. Mas, também, se a gente não curtisse, tacava fogo no estúdio, quebrava tudo e ia embora". No dia - a - dia, algo mudou? "Apenas que hoje conseguimos sobreviver da música", completa, ainda, Clemente. O disco veio forte. O grupo já é ou é. Mesmo assim eles não alimentam esperanças de frequentar as FMs. "Rádio é meio difícil. Não sei como funciona.", continua ele. Ronaldo: "Está tão ruim que nem rádio ouço mais. Só escuto porque não sou surdo - todo lugar em que eu passo tem rádio ligado". Além de todo o trabalho com o grupo, Clemente está tramando outras investidas. Umas delas é remontar uma das mais significantes bandas daquela época, Restos de Nada, só para gravar um LP para cobrir a triste defasagem histórica. O disco deve sair pelo selo indepêndente Devil e trará a formação e os arranjos originais. Ariel reassumiria o vocal, Clemente o baixo, Douglas a guitarra e Charles "Carlinhos" a bateria. Fora isso, Clemente está produzindo um coletânea pelo selo Ataque Forntal intitulada Contra-Ataque e que pretende ser uma das mais expressivas do genêro garage band do momento. Para finalizar, eles acham que ainda há muito o que se fazer no Brasil. Não se consideram inferiores aos roqueiros do exterior e concluem "Enquanto mantivermos uma postura feriorizada, não passaremos de sub cultura para o resto do mundo". E, antes que comecem as comparações de estilo com outros grupos, avisam: "Agüentem ou façam alguma coisa para chatear a gente". Mais? "O rock inglês é demais? Então vão lá morar com eles."